Mariot na França

Exame de DNA

Em 2022 o autor efetuou um exame de DNA autosomal que acusou um pequeno indício de DNA francês por parte de pai.[1] Porém, existe uma grande chance de que as gerações mais antigas dos Mariot do Vêneto não sejam de origem francesa.

Mais informações podem ser verificadas na página sobre o teste de DNA.

Os Mariot da França

Século 18

Nessa época houve um maior número de imigrantes e intenso colonialismo. Aconteceu uma revolução agricultural e uma industrial. Cidades cresceram e muitas pessoas deixaram as áreas rurais. Esse foi também um período de muitas guerras, grandes e pequenas. Essa época viu uma classe mercante dominar a economia e a mudança de um sistema feudalista para um capitalista. O número de pessoas alfabetizadas aumentou. Listas de pessoas eram mantidas, para saber quem fazia parte dos exércitos, quem votava, quem pagava impostos, quem era empregado, quem possuia propriedade, quem devia e quem pagava. Por isso os Mariot mais antigos que temos notícia na Itália eram do século 18.

Nas minhas pesquisas, não encontrei nenhuma figura histórica na França, da mesma maneira que encontrei na Inglaterra. Entretanto, a partir do século XVII, muitos óbitos foram registrados em Paris de pessoas com o sobrenome Mariot. A prefeitura de Paris possui um acervo digital com registros civis dos anos 1860 até 1902 (e alguns mais velhos ainda) onde se pode fazer uma pesquisa por nome.[2] Existe uma pequena chance que essas pessoas estejam conectadas com os Mariot da Itália, mas o problema é que eles eram quase contemporâneos entre si.

No acervo digital do governo francês, o registro mais antigo de uma pessoa com o sobrenome é de uma Magdelaine Mariot[3], nascida em Vendôme em 1659. Nessa época, Louis XIV era rei e Vendôme era um ducado. Louis Joseph, duc de Vendôme, foi um famoso general.

Existem 115 outros resultados no acervo digital, totalizando 116: 4 registros são do século XVII, 44 do século XVIII, 64 do século XIX e 4 do século XX.

Madamme de la Guette

Aide-de-camp na era napoleônica. Aide-de-camp na era napoleônica. (c. 1812)

Uma autora francesa pelo nome de Catherine Meurdrac (1613 - 1676), também conhecida como Madame de La Guette, nascida em Mandres-les-roses escreveu um livro chamado Mémoires, publicado em 1681.[4]

"Mémoires de Madame de la Guette" trata-se de uma auto-biografia. Nesse livro é dito que Catherine casou-se com um homem que era conhecido como Jean Mariot, écuyer, sieur de La Guette, capitaine de chevaulegers et maître-d'hôtel ordinaire de Sa Majesté. - "Jean Mariot, escudeiro, senhor de la Guette, escudeiro, capitão da cavalaria leve, mordomo ordinário de Sua Majestade".

Jean é relatado ter sido aide-de-camp de um Henri de Briqueville, marquis de La Luzerne, lugar-tenente do exército da Catalonia.

Ao casar-se com o senhor de la Guette, Catherine Meurdrac herdou o título do marido, por isso o nome Madame de la Guette. Eles tiveram um filho que teve como padrinho um certo Louys de Valoys, conde d'Auvergne.

Senhor de la Guette morreu em 22/06/1665 como capitão da cavalaria, foi enterrado em Sucy, sudeste da França.

A hipótese dos imigrantes franceses

Certamente existem Mariot na França. Mas seriam eles aparentados com os Mariot do Vêneto?

Distribuição geográfica dos Mariot na Europa

Em 2020, estima-se que existem pessoas com o sobrenome Mariot em 17 cidades da Itália, com até 5 pessoas em cada uma (mais ou menos 85 pessoas no máximo), especialmente na região do Veneto, com 9 cidades. As outras regiões são Toscana (3), Lombardia (2), norte de Piedmont (2) e Liguria (1).[5]

Na França, em compensação, existem Mariot em pelo menos 300 cidades, com entre 322 e 1.540 pessoas que usam esse sobrenome. A maioria vive em Pays de la Loire e Île-de-France. Isso reforça a idéia que o sobrenome se originou na França.[6] Isso não significa, entretanto, que não tenha se originado também noutra parte.

Se os Mariot da França forem aparentados com os do Vêneto, como, quando e porque eles foram para a Itália?

No momento é impossível responder isso. Mas podemos formular uma hipótese baseado na história desses lugares. A quantidade pequena de Mariot na Itália talvez sugira que uma imigração da França, caso tenha acontecido, tenha sido relativamente recente. Os registros italianos mais antigos dos Mariot são de meados de 1800. Se eles vieram da França, uma análise do que aconteceu nos 100 anos anteriores pode dar uma idéia do que pode ter causado uma primeira imigração.

Porém, cabe ressaltar que isto é apenas uma hipótese, e carece de evidências de qualquer tipo. Inclusive, existe evidência em contrário, que pode ser explorada na página sobre o teste de DNA.

Instabilidade na França

A Assembléia Nacional A Assembléia Nacional

Na segunda metade do século 18, o Reino da França entrou em guerra com o Reino Unido da Grã-Bretanha e com a Prússia, que já estava engajada em outro conflito com a Áustria. As hostilidades começaram por causa de disputas territoriais na América do Norte. Essa guerra ficou conhecida como Guerra dos Sete Anos e o resultado foi desastroso para a monarquia francesa.

A Guerra dos Sete Anos foi muito custosa para a França e para o Reino Unido, pois as hostilidades na América do Norte levaram à criação de uma força militar britânica que eventualmente faria parte do exército revolucionário dos Estados Unidos da América. Depois de perder a guerra, a França decidiu financiar as forças norte-americanas com a expectativa de obter um novo aliado contra o Reino Unido. A aliança deu certo, mas levou a França à falência.

Os impostos subiram consideravelmente durante a Guerra dos Sete anos e a guerra da independência norte-americana não gerou nenhum tipo de retorno financeiro. O Antigo Regime se tornou incrivelmente impopular e a morte do rei Louis XV resultou em um sucessor despreparado e ingênuo no trono. A dissatisfação ficou clara durante a Assembléia dos Estados Gerais de 1789, em que o Terceiro Estado, que era composto de mais ou menos 98% da população da França, demandou que a aristocracia e o clero se responsabilizassem pelo suporte financeiro ao Reino. O Terceiro Estado formou a Assembléia Nacional em junho do mesmo ano. Para evitar que o estado fechasse a Assembléia Nacional, o povo começou uma rebelião, invadiu a Bastilha para se armar e decidiu escrever uma constituição. Assim começou a Revolução Francesa, um processo lento que durou uns 10 anos.

Bataille du Mans - 1793 Não parece uma vida agradável.

Apesar dos ideais elevados da Revolução Francesa, a França foi palco de muitos atos de extremismo. A família real foi executada em praça pública, e com eles, muitos membros da aristocracia e do clero. Os membros da Assembléia tinham opiniões diferentes sobre como lidar com a crise. Quando os Jacobinos tomaram o poder, começou um período conhecido como Reino de Terror. A instabilidade política era um convite à guerra. A Assembléia declarou guerra à Áustria e tanto a Áustria quanto a Prússia planejavam invadir a França.

A Revolução Francesa só terminou com um golpe de estado organizado por Napoleão Bonaparte em setembro de 1797.

Todas essas complicações na França levaram muitas pessoas a fugir do país. Historiadores costumam focar nos emigrantes franceses que faziam parte da aristocracia e da burguesia. E de fato, muitos nobres e pessoas ricas fugiram das complicações na França, especialmente entre 1789 e 1815, porque suportavam a monarquia e queriam fugir de perseguições. Mas pessoas mais pobres também tinham motivos de sobra para fugir da França.

Falta de comida e altos impostos já eram um problema desde a Guerra dos Sete Anos. E a situação na França foi se deteriorando, hiper-inflação fez com que a moeda francesa perdesse muito do seu valor original, e a perseguição política que os girondistas estabeleceram durante o Reino de Terror era uma boa motivação para fugir da possibilidade de execução.

Hipótese

É possível, embora improvável, que alguns Mariot tenham imigrado para a Itália durante os séculos 17 e 18 por causa dos problemas na França. O problema é que a não era fácil chegar na Itália. Um mapa de Jakob von Sandrart (1630-1708), mostra uma estrada que vai de Nice até Torino. Contornando rios e os alpes, o trajeto inteiro tem em média 560 quilômetros. Isso é, em média, entre 4 e 5 dias ininterruptos de viagem a cavalo, pois a região é muito montanhosa. Hoje o trajeto mais curto tem 194 quilômetros, e leva 2 dias de caminhada com uma pausa de 5 horas, um pouco menos a cavalo, provavelmente.[7]

Talvez fosse mais fácil chegar na Itália através de uma campanha militar, o que acontecia com relativa freqüência.

A etimologia do nome e o número de pessoas com esse sobrenome na França deixam claro que os Mariot da França são nativos do local. O nome certamente existia no Vêneto no século 18, então basta descobrir se o nome vêneto surgiu de forma independente da variante francesa ou não.