Os Mariot de Longarone
Longarone

Os registros mais antigos que temos notícia de Mariot que pertencem à família que originalmente imigrou para o Brasil estão no município de Longarone, cerca de 108km ao norte de Veneza.
Longarone fica em um vale conhecido como Zoldano ou Vale do Zoldo, e faz parte da província de Belluno. Longarone se tornou oficialmente um município em 1806, no período napoleônico. Todas as mudanças de governo no Vêneto afetaram Belluno e por conseqüência, Longarone.
Na verdade, os primeiros registros civis também começaram no período napoleônico. Portanto os registros mais velhos que se pode encontrar são de 1806. Antes de 1806, só registros paroquiais podem ser encontrados.
Longarone é uma cidade pequena, com 103 quilômetros quadrados e, em 2020, com pouco mais de 4000 residentes. Mas embora o perímetro urbano de Longarone seja pequeno, a cidade é dividida em 17 áreas administrativas chamadas frazioni (frações).
Então Longarone tem muitas igrejas. Muitas destas devem ter registros paroquiais. São pelo menos 10 paróquias que datam desde antes do século XX, a mais antiga é a Chiesa dei santi Quirico e Giulitta, na frazione de Castellavazzo, e data do século IV.
Mas os registros paroquiais de Longarone não foram digitalizados, portanto para desenterrar os antigos Mariot, é necessário ir até lá fisicamente.
Além dos registros civis e paroquiais, existem os censos. Os primeiros censos na Itália foram feitos em 1871. Desde então eles têm sido feitos a cada 10 anos.

Registros civis
Registros napoleônicos
Uma rápida investigação nos registros napoleônicos revela que em 1806 já haviam Mariot em Longarone, e eles pareciam pertencer a mais de uma família. É também evidente que os Mariot da época não eram todos lavradores.
Entre 1806 e 1811, por exemplo, encontrei 10 pessoas com o sobrenome Mariot.[1]
Por exemplo, em 3 de julho de 1806, um relojoeiro chamado Marco Mariot, de Pirago, foi testemunha de dois casamentos: o primeiro entre Valentino Mazucco e Anna Maria de Marco e outro entre Angelo Milton Sachet e Catterina Mazucco.
Em 28 de agosto do mesmo ano, uma Giovanna Mariot de 34 anos, residente em Pirago, casou-se com Domenico de Villa. Giovanna era viúva de um certo Appollonio de Bona e seu pai se chamava Mattio Mariot.
A lista continua, sem revelar muito a respeito dessas pessoas, com a ocasional referência a alguém que já apareceu em outro documento. O mesmo Mattio pai da Giovanna tinha outro filho chamado Marco e outro chamado Felice. Outro personagem que aparece nos documentos é Gregorio Mariot, pai de Francesca e de Maria Giovanna.
Na época que esses registros foram feitos, Pietro Mariot já era vivo. Mas ele nasceu antes de 1806 e os documentos não passam de 1815, ano em que ele ainda era muito jovem para casar-se.
Os registros napoleônicos não nos ajudam a desvendar a história de Pietro e da geração anterior aos Mariot imigrantes, mas ajuda a ilustrar que a família Mariot não era necessariamente pequena, embora vivesse em um lugar pequeno.
Registros posteriores
Uma coleção de registros civis pós período napoleônico foi disponibilizado online em meados de 2021. Muitos destes documentos foram danificados por água, provavelmente por causa do desastre da barragem de Vajont em 1963. Porém, uma coleção de papéis sobreviveu e entre eles encontra-se o registro de morte de Teresa de Bona e registros de casamento, nascimento e matrimônio de outros membros da família Mariot, embora não exista uma relação clara entre eles e os imigrantes.
Duas famílias
Duas linhagens da família Mariot imigraram para o Brasil.
A primeira linhagem foi a dos descendentes de Pietro Mariot e seu filho Matteo Ignazio Mariot.
A segunda linhagem foi a dos descendentes de Tommaso Mariot.
Estes dois indivíduos eram evidentemente aparentados, mas ainda não sabemos em que nível. As duas famílias vieram de Pirago, e alguns membros das duas linhagens viajaram juntos.
Os Mariot da linhagem de Tommaso foram erroneamente citados por Quinto Davide Baldessar e por Leda Mariot Belloli como sendo membros da família Longo.[2, P. 3][3, P. 147] Porém, Edson João Mariot (que pertence a esta linhagem) afirma que os registros civis de Longarone evidenciam que Tommaso e seu filho Marco usavam o sobrenome Mariot muito antes da imigração, informação que põe por terra a informação equivocada que eles eram da família Longo.[4]
Censo e a linhagem de Pietro
Em relação aos Mariot descendentes de Pietro que foram ao Brasil, o registro mais antigo que se tem notícia está no Ruolo della Popolazione della Frazione de Pirago e Muda.[5] Provavelmente esse documento faz parte do censo de 1871.
Nesse documento se encontra o registro de uma das famílias Mariot da região. O membro mais velho da família, segundo o registro, é Teresa de Bona, filha de Marco de Bona e Giovanna de Cesare, nascida no dia 15 de setembro de 1796, um ano antes da dominação napoleônica da Itália. Teresa casou-se com Pietro Mariot, de idade desconhecida, e foi mãe de Matteo Ignazio Mariot, nascido em Longarone no dia 30 de janeiro de 1818. Matteo foi o mais velho dos Mariot a viajar para o Brasil.
Matteo teve como irmãos Margherita (08/03/1827) e Ignazio Angelo (24/09/1829). É interessante observar que Pietro Mariot não aparece no documento de onde essas informações foram retiradas e por isso não se sabe a data de nascimento dele. É também interessante observar que Matteo está no topo da lista. Isso sugere que Pietro já era falecido e Matteo assumira as responsabilidades como chefe de família.
Existe uma lacuna grande entre o nascimento de Matteo e sua irmã Margherita: 9 anos. Uma extrapolação que pode ser feita é que talvez eles tivessem outros irmãos que foram embora de Longarone naquele período ou talvez irmãs que mudaram de sobrenome.
Em 3 de fevereiro de 1847, aos 29 anos, Matteo casou-se com Anna Fontanella, 21 anos, nascida em 11 de maio de 1826, filha de Agostino Fontanella e Maria Polla (o sobrenome não aparece no Ruollo).

No documento estão também os filhos de Matteo e Anna:
Nome | Data de nascimento |
---|---|
Pietro | 11/01/1848 |
Cesare | 09/03/1850 |
Giovanni | 04/08/1854 |
Giosuè | 17/01/1857 |
Brigida | 06/01/1859 |
Marco | 03/03/1861 |
Teresa Brigida | 22/08/1863 |
Valentina | 18/10/1865 |
Margherita | 04/01/1868 |
Dos Mariot da família de Matteo, os únicos que não aparecem em nenhum outro documento (até o momento) são Cesare e Brigida. Tradição oral da família revela que Cesare morreu na construção de uma estrada de ferro nos arredores da Hungria Central (mais detalhes na página de Cesare). Brigida morreu na infância, em 15 de maio de 1861, com apenas 2 anos de idade.[5]
Os que ficaram
Ignazio Angelo se casou em 30 de outubro de 1862 com Maria Bratti (filha de Angelo e Anna Bratti). Maria Bratti nasceu em 27 de setembro 1839. Eles aparentemente tiveram três filhos, mas os nomes estão quase ilegíveis. Parece que são: Michele Primo, (nome masculino, sem data de nascimento, falecido 08/04/1864) Pietro (nascido em março de 1865), e uma menina chamada Veneranda nascida em 8 de maio de 1868. Aparentemente eles não emigraram.
A linhagem de Tommaso
A outra linhagem dos Mariot infelizmente sofre de carência de evidências como a do ruolo. É possível que eles estejam neste documento, mas o assunto requer mais pesquisas.
O que se sabe sobre esta linhagem é que eles também vieram de Pirago, e o membro mais antigo deste tronco era Tommaso, nascido em 1816 (2 anos antes de Matteo) e sua esposa Lucia de Vido, nascida em 11 de maio de 1826.
Tommaso faleceu em Longarone em 1877, mas sua esposa Lucia imigrou para o Brasil e lá viveu até sua morte em 16 de setembro de 1919.
Não se sabe quantos filhos Tommaso e Lucia tiveram. Mas dos que imigraram, sabe-se de três:
- Marco: nascido em 31/01/1854. Casou-se com Madalena Fontanella em 06/05/1877 e em 1879 teve um filho chamado Giovanni Mariot. Os três imigraram para o Brasil no mesmo ano, junto de Matteo Ignazio e seu filho Marco. Instalou-se em Rio Salto junto com a linhagem de Pietro. No Brasil, o casal teve pelo menos mais 10 filhos: David, Cesare, Defendi, Tommaso, Catina, Lucia, Italia, Maria, Amalia e Angela.
- Maria: nascida em 06/06/1864, foi ao Brasil em 1880 e casou-se no Brasil com Antonio Benedet em 02/03/1882. Teve pelo menos 7 filhos: Giuseppina, Luigi, Vittorio, Izeta, Elsa (ou Elisa), Enrica e Ottavio.
- Antonia: nascida em meados de 1871, casou-se com Marco Mariot, filho de Matteo Ignazio, e teve 10 filhos. (Mais detalhes na página de Marco.)
Não sabemos muito mais sobre a linhagem de Tommaso, exceto que o pai de Lucia de Vido parece ter se chamado Mario de Vido.