Mariot na Inglaterra

Exame de DNA

Em 2022 o autor efetuou um exame de DNA autosomal que acusou que não há nenhum indício de DNA britânico por parte de pai.[1]

Mais informações podem ser verificadas na página sobre o teste de DNA.

Os Mariot da Inglaterra

Domesday Book

Os sobrenomes começaram a entrar em uso na Inglaterra por volta de 1086, 20 anos depois da conquista normanda. Isso se deu porque o rei William I (o conquistador), depois de se estabelecer na Inglaterra, mandou fazer um censo. Esse censo consistia de um levantamento da renda de todos os súditos do reino e suas propriedades para a futura coleta de impostos. Os nomes dos donos de terra foram compilados, de maneira freqüentemente reduzida, no Domesday Book.[2] Como muitos proprietários tinham o mesmo nome, era comum escolherem um segundo nome. Os normandos que viviam na Inglaterra costumavam usar o nome da região francesa de onde eles vinham, outros usavam os nomes das terras que eles possuiam na Inglaterra. Muitos sobrenomes associados à profissão vêm do Domesday Book. Não existe nenhum registro do nome Mariot nesse livro.[3] Como os súditos mais pobres não precisavam de sobrenomes, sabemos que não havia uma família importante de nome Mariot e a versão inglesa desse nome deve ter sido introduzido em um tempo posterior.

Domesday Book Domesday Book no castelo de Lincoln, Lincolnshire, Inglaterra.

Mariot em Berkshire

Parlamento Modelo da Inglaterra no século 16. Parlamento Modelo da Inglaterra no século 16.

O registro mais antigo que pude encontrar data de 300 anos depois do Domesday Book. Nessa época havia pelo menos um John Mariot[4] vivendo na Inglaterra. John foi o prefeito do borough de Wallingford, Berkshire por volta de 1300. Ele também foi membro da câmara dos Comuns (uma das duas câmaras do parlamento britânico e principal instituição, hoje, do governo do Reino Unido) entre 1306 e 1341.

O parlamento inglês

Na verdade, o parlamento inglês em 1306 ainda não era bi-cameral, e a assembléia incluía membros do clero, aristocracia, e também representantes dos vários condados e boroughs. Cada condado enviava dois cavaleiros e dois burgesses eram eleitos em cada borough, e cada cidade elegia dois cidadãos. Essa composição tornou-se o modelo para parlamentos posteriores, por isso o nome "Parlamento Modelo".[5]

A língua inglesa

É importante ressaltar que, na Inglaterra do século XIII, se falava duas línguas. Entender se os Mariot das ilhas britânicas são de origem francesa ou inglesa requer explorar um pouco este fenômeno.

A corte britânica passou a usar a língua inglesa como segunda língua durante o reinado de Edward I, que morreu em 1307. Em 1337 a Inglaterra entrou em guerra contra a França e em 1348 a peste negra dizimou entre 40% e 60% da população inglesa.[6] Com a aristocracia reduzida e patriotismo inflado por causa da guerra a língua inglesa ganhou tração e em 1356 o prefeito e os vereadores da Cidade de Londres estabeleceram que os processos jurídicos deveriam ser executados em inglês. Em 1362, o Chanceler abriu o parlamento em inglês.[7] Durante a rebelião de Wat Tyler em 1381, o rei Richard II se dirigiu aos plebeus em inglês. A renúncia de Richard I foi feita em inglês e os discursos de Henry IV também foram feitos em inglês.

John Mariot

John Mariot foi eleito pela primeira vez pelo distrito de Wallingford em 1306 junto de Osbert de Notele. Até sua última nomeação em 1341, parlamentares do mesmo distrito foram eleitos com sobrenomes franceses. Por exemplo, entre eles estavam Nicholas de la Barre, Thomas de Morton, Thomas Bene, William Butty, Thomas Bortorat, Richard Grotard, e muitos outros.

Na época de John Mariot, falava-se francês no parlamento. Isso mudou com o Statute of Pleading (Ato dos tribunais ingleses) de 1362. Portanto John Mariot falava francês. Se ele era de origem francesa ou não, não se sabe. Mas como ele estava em uma posição política, acho mais provável que o nome tenha vindo da França em gerações anteriores a ele.

Mariot em Norfolk

East Beckham em Norfolk East Beckham em Norfolk

Uma outra história revela a existência de uma família Mariot na região de Norfolk no século XV. Eles aparecem como personagens em um litígio conhecido como the East Beckham Dispute. A história é bem interessante.

Em Norfolk existe um lugar chamado East Beckham. Em 05/09/1435 um sujeito chamado William Mariot de Cromer morreu afogado em alto mar e deixou dois filhos, duas filhas, o território de East Beckham e uma dívida de 300 marcos pelo pagamento dessa propriedade. William Mariot deixou um testamento que dizia que a sua viúva Joan Mariot deveria vender East Beckham e dar o dinheiro aos filhos, no valor de 300 marcos e 40 libras esterlinas. A viúva decidiu vender a propriedade para um juíz chamado William Paston, mas o negócio foi interrompido quando o antigo proprietário, Edmund Winter, ocupou East Beckham em 20/12/1434 e acusou Joan Mariot e o seu filho John Mariot de invasão; ele alegou que eles possuíam posse do imóvel sem ter um título. Houve um julgamento e em 16/07/1436, 24 jurados sentenciaram os Mariot a uma multa de 100 marcos e £40.[8]

William Paston passou a representar os interesses dos Mariot, e eles recorreram da decisão e peticionaram ao Rei Henry VI pela custódia da propriedade pelos três anos conseguintes. Joan Mariot morreu e o filho John Mariot passou a ocupar a propriedade em 01/03/1440. Ou pelo menos é o que dizem os documentos. Cartas da época deixam claro que John Mariot ocupou East Beckham 20 meses depois. O problema é que o litígio ainda estava em andamento e o acordo com William Paston era que ele (William) pagaria pelas custas do processo e o valor seria descontado do imóvel. John Mariot concluiu que mesmo que conseguisse vender East Beckham para William Paston ele ficaria endividado em 5 marcos. Por isso ele decidiu desmanchar o acordo com William Paston, mas esse começou uma batalha judicial contra John em 1443. John Mariot conseguiu suporte inesperado do seu antigo adversário Edmund Winter, que acabou ficando com o imóvel.[8]

A história dos Mariot de Norfolk foi registrada em uma coleção de cartas e documentos da família Paston conhecida como The Paston Letters. Existem alguns livros explorando o conteúdo das cartas.[9]

Mariot na América do Norte e em Londres

Henry Howard Henry Howard, 6º Duque de Norfolk. Em 1663 o título pertencia ao seu irmão mais velho, Thomas Howard, 5º Duque de Norfolk, mas ele tinha problemas mentais e era representado pelo irmão.

Existe um outro documento de 1663 na forma de uma carta endereçada a um Duque de Albemarle por um certo John Colleton. Nessa época os Estados Unidos eram uma colônia britânica e o conteúdo da carta sugere que o Duque de Albemarle estava tentando ceder territórios na Carolina do Norte para alguns fazendeiros. A carta diz que um Mr Mariot, representante (Steward, Lieutenant) do Duque de Norfolk, possuía documentos que deixavam claro que não seria possível criar uma colônia na Carolina do Norte porque o Duque possuía um título datado do ano 1629.[10]

Aparentemente o Mr Mariot na carta de Colleton era um advogado ou algum outro tipo de representante dos interesses legais do Duque de Norfolk na América do Norte. O fato d'ele ser da mesma região dos Mariot do East Beckham Dispute de 1440 sugere que a família permaneceu na região por esses 200 anos, sobrevivendo a guerra dos 100 anos.

Marriot e Marriott

As demais referências a nomes similares são, na maioria dos casos, dos séculos 17 e 18, e não devem ter nenhuma ligação com os Mariot da Itália. Seguem alguns exemplos.

Além de John Mariot de Wallingford e dos Mariot de Norfolk, sabe-se da existência de um John Marriot,[11] falecido em 1657 e seu filho Richard Marriot,[12] falecido em 1679, que foram editores proeminentes em Londres no século XVII. Eles aparentemente possuiam editoras independentes, mas sabe-se que entre 1645 e 1657 eles foram sócios.

Existem também registros de um John Marriott[13], que foi um monge e poeta que viveu entre 1780 e 1825 e foi batizado na igreja de Cotesbach Church, em Leicestershire, no dia 11 de Setembro de 1780. Ele foi filho de um certo Robert Marriott, falecido em 1808.

E por fim, mais recentemente viveu um Sir James Marriott (29/10/1730 – 21/03/1803), um juíz britânico, político e estudioso do século XVIII conhecido por serviços prestados na High Court of Admiralty (Suprema Corte do Almirantado), a mais suprema corte no Reino Unido responsável por direito naval e marítimo.[14]

Infelizmente, não parace provável que haja uma conexão entre estes cidadãos britânicos e os Mariot do Vêneto. Mas é evidente que o sobrenome pode muito bem ter se originado na França e um ramo da família ter se instalado nas ilhas britânicas, onde o nome vem sendo usado desde a idade média.